Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 14 de abril de 2009

ELABORANDO O LUTO

Estou tentando da dor sentida dar à ela nome, rosto, substância. Das perdas amorosas à morte, do pensar uma trajetória de vida, me convido para repensar o viver.
Perder, entristecer e doer mobilizam reunião. Muitos se aproximam com disposições diversas. Variações desde a curiosidade, passando pelo alívio do “antes ela do que eu”, da necessidade pessoal em oferecer o consolo legal, até a sincera presença. O que seria uma sincera presença senão uma presença sem cera, com apenas a intenção de estar, apenas acompanhar e expressar: “meninas estou com vocês”.
É possível viver este silêncio na dor, suportar o insuportável? Posso atestar que não é fácil. E posso atestar que tenho tido o privilégio de amigos que se irmanaram na minha/nossa dor e não se distanciaram e nem se intimidaram por não saber o que fazer. Esta minha dor também passou a ser delas e aí nos tornamos parceiros. Essas pessoas não fugiram, não contaram piadas, não fizeram de conta que sou suficientemente forte e espiritualizada para agüentar.
Durante o velório e dias subseqüentes ouvi explicações e consolos, que acredito, adotados por pessoas que jamais tenham mergulhado na reverência à perda e a todo processo requerido para sua assimilação.
“Ela já estava fazendo hora extra aqui”, quem determinou? “Ela está num lugar muito melhor que a gente”, você já foi para saber? “Parou de sofrer”, quem lhe disse que ela estava sofrendo?
Morre-se por se estar vivo, ponto.
Ao perder, e também sentir o amparo, a consideração, o carinho, a acolhida, conquista-se o poder de “afracar” a dor, torná-la menos árida, vivê-la respeitosamente, sem aumentá-la, desnecessariamente, e nem dissimulá-la. A tal da justa medida, da justa pedida.
Um abraço forte, silencioso e quente é suficiente.

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