Domingo tornou-se um dia que gosto de ficar em casa. Acordo e levanto a hora que o corpo quer e não a que o despertador das obrigações da semana, ditatorialmente determina. Tomo o café da manhã, minha refeição predileta, vagaroooooosamente, escuto música de acordo com meu astral, me esparramo no sofá para ler o jornal ou dar seguimento naquela leitura deliciosa, atendo ou não aos telefonemas de acordo com minha vontade de naquele instante, interromper esses prazeres e falar ao telefone, e ainda conto com a colaboração do celular que só pega, lá em casa, quando quer (só gosto disso com o celular aos domingos!).
Nesse último estava ainda na etapa do café, quando o telefone tocou e uma amiga, arquiteta, me convidava para tomarmos café juntas. Declinei o convite, mas perguntei se ela não gostaria de vir em casa fazer as marcações e dependurar os quadros, como havia me prometido, que herdados há dois meses, se empoeiravam encostados nas paredes. Assim foi e entre uma confidência aqui e uma novidade ali, degustando um delicioso Proseco chega o horário do almoço e à programação noturna, teatro: A Alma Imoral. Compromisso que, tradicionalmente, não assumo no domingo, mas em função das companhias de sobrinhos e irmã, aceitei.
A atriz Clarice Niskier inicia a peça contando que em 2002, estava em cartaz com o espetáculo “Buda”, quando foi participar de um programa de TV para discutir religião. Ao declarar, ao vivo, que se considerava uma “judia-budista”, foi duramente criticada por uma espectadora/D.Léa. O rabino Nilton Bonder, também presente, interviu em sua defesa e, ao final do programa, deu a ela seu livro de presente.
A obra e o episódio (necessidade de responder à D.Léa, o que não ocorreu no programa) marcaram tanto Clarice que ela decidiu adaptar o livro do rabino para o teatro. Dessa história, surgiu o espetáculo “A Alma Imoral”.
Já havia lido o livro por sugestão do Gui, mas da primeira vez que ela a encenou, aqui em BH, não pude ver a peça. Dessa, graças à lembrança do Mau em me convidar, pude deleitar-me.
O texto propõe um descondicionamento muito profundo do olhar, tanto no dia-a-dia quanto para si mesmo. Bonder interpreta as histórias do velho testamento de forma arejada, no sentido de libertar o sagrado que tem dentro de você, sem a necessidade de um dogma. Fala ainda da necessidade de rompimentos: assim como temos necessidades da tradição (ato de transmitir ou entregar), temos necessidades de traição (não cumprir, não corresponder), mas da traição que respeite a vida. A gente tende a ver que só o conservador é que respeita o passado. Mas existe respeito pelo futuro, para evoluir e para poder, através do desconhecido, aprimorar o conhecido, trazer vida para ele.
A peça, um monólogo, não há personagem. É a própria Clarice que vai conversando com o público e narrando as passagens da obra que pode ser re-falada (trechos) de acordo com os pedidos da audiência. Ela fica nua durante boa parte da peça, usando apenas um pano preto que se transforma em vários figurinos e de uma expressão corporal fantástica. Não é por acaso que ganhou o Prêmio Shell/2007 de melhor atriz com sua “Alma Imoral”.
E com isso eu pude cometer uma deliciosa traição, do que já estava se tornando um tradicional domingo. Recomendo a leitura do livro e assistir à peça!
Nesse último estava ainda na etapa do café, quando o telefone tocou e uma amiga, arquiteta, me convidava para tomarmos café juntas. Declinei o convite, mas perguntei se ela não gostaria de vir em casa fazer as marcações e dependurar os quadros, como havia me prometido, que herdados há dois meses, se empoeiravam encostados nas paredes. Assim foi e entre uma confidência aqui e uma novidade ali, degustando um delicioso Proseco chega o horário do almoço e à programação noturna, teatro: A Alma Imoral. Compromisso que, tradicionalmente, não assumo no domingo, mas em função das companhias de sobrinhos e irmã, aceitei.
A atriz Clarice Niskier inicia a peça contando que em 2002, estava em cartaz com o espetáculo “Buda”, quando foi participar de um programa de TV para discutir religião. Ao declarar, ao vivo, que se considerava uma “judia-budista”, foi duramente criticada por uma espectadora/D.Léa. O rabino Nilton Bonder, também presente, interviu em sua defesa e, ao final do programa, deu a ela seu livro de presente.
A obra e o episódio (necessidade de responder à D.Léa, o que não ocorreu no programa) marcaram tanto Clarice que ela decidiu adaptar o livro do rabino para o teatro. Dessa história, surgiu o espetáculo “A Alma Imoral”.
Já havia lido o livro por sugestão do Gui, mas da primeira vez que ela a encenou, aqui em BH, não pude ver a peça. Dessa, graças à lembrança do Mau em me convidar, pude deleitar-me.
O texto propõe um descondicionamento muito profundo do olhar, tanto no dia-a-dia quanto para si mesmo. Bonder interpreta as histórias do velho testamento de forma arejada, no sentido de libertar o sagrado que tem dentro de você, sem a necessidade de um dogma. Fala ainda da necessidade de rompimentos: assim como temos necessidades da tradição (ato de transmitir ou entregar), temos necessidades de traição (não cumprir, não corresponder), mas da traição que respeite a vida. A gente tende a ver que só o conservador é que respeita o passado. Mas existe respeito pelo futuro, para evoluir e para poder, através do desconhecido, aprimorar o conhecido, trazer vida para ele.
A peça, um monólogo, não há personagem. É a própria Clarice que vai conversando com o público e narrando as passagens da obra que pode ser re-falada (trechos) de acordo com os pedidos da audiência. Ela fica nua durante boa parte da peça, usando apenas um pano preto que se transforma em vários figurinos e de uma expressão corporal fantástica. Não é por acaso que ganhou o Prêmio Shell/2007 de melhor atriz com sua “Alma Imoral”.
E com isso eu pude cometer uma deliciosa traição, do que já estava se tornando um tradicional domingo. Recomendo a leitura do livro e assistir à peça!
P.S.: Temos sempre uma "D.Léa" em nossas vidas, que independente do tempo que levamos carece de resposta.
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