Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MEDO


Você tem medo de quê? Medo todo mundo tem. Porque o medo é um sentimento natural de quem está vivo e tem a função de alerta, de avisar o organismo de um perigo ou ameaça e provocar reações de proteção. O problema é que, diferentemente dos animais, temos a consciência de que um dia iremos morrer.
Do medo da morte derivam muitos medos que nos acompanham desde sempre e os que habitam nossa alma nos dias de hoje. Temos medo de tudo: do cigarro, da gordura trans, do aquecimento global. Das notícias ruins, de falar com um estranho, da crise mundial. De ser assaltado, de perder o emprego e até mesmo de ser feliz.
Como seria impossível escrever sobre todos os medos, escolhi olhar mais de perto aqueles que são alimentados pelas inseguranças e ansiedades contemporâneas. Não vou falar aqui de medo de barata, de elevador ou de avião. Nem dos eternos medos da velhice e da solidão.
Medo do fracasso: Se hoje um dos nossos maiores medos é o de fracassar, é porque uma das nossas maiores buscas é o sucesso. Passamos à vida determinados a conquistar coisas, pessoas e posições que nos levem ao sucesso, ligado, na nossa sociedade, à idéia de felicidade e realização. O problema é que hoje, para ser bem sucedido, é preciso superar níveis de exigência sempre mais altos. O mundo nos cobra competência, eficiência, excelência. E um espírito competidor: todos são seus concorrentes quando disputam um lugar ao sol com você!
Quer uma vaga num concurso público? Então se prepare para ser o melhor e deixar para trás milhares de outros candidatos. Seu sonho é trabalhar numa organização internacional? Pois trate de ter no currículo fluência em inglês, francês, árabe e mandarim e ainda um título de mestre e outro de doutor.
Medo de crescer: Às vezes a gente tem medo até daquilo que mais quer. O medo de crescer parece ser um mal difuso entre nós. Pense em você e em alguns amigos. Quantas vezes vocês não amarelaram na hora de definir uma situação, não deram um passo para trás no momento de dar aquele passo à frente? Como se fosse possível ir adiando a hora de se responsabilizar de verdade por aquilo que nos acontece, pelas escolhas que fazemos na vida. A gente quer por que quer se casar, mas fica morrendo de medo dos compromissos que vêm com o casamento; queremos ter aquele emprego, mas não suportamos a parte ruim que vem junto com ele. Quando esse vai-não-vai fica sério, ganha até um nome: síndrome de Peter Pan. Adultos que sofrem desse mal se recusam a crescer, insistem em viver na Terra do Nunca e querem levar a vida simplesmente numa boa, sem encarar os problemas e as responsabilidades.
Medo de mudança: Como se explica o medo do novo numa sociedade que cultua as novidades? Por que tanta gente reluta em mudar mesmo quando tudo está dando errado? A pessoa parte de uma situação conhecida, que domina, para uma situação nova, desconhecida. Parte da segurança para a insegurança, e aí pinta a angústia e o medo. A fórmula, dizem alguns especialistas, é o tempo. O que é novo hoje não vai ser daqui um mês. Só mudando para o medo passar.
Mas se com o tempo tudo se resolve, por que não mudar de cidade, de estado civil, de corte de cabelo? Por que não correr o risco de largar o emprego para correr atrás do sonho? Porque, mesmo que o mundo lá fora seja certo e instável, as pessoas ainda buscam estabilidade, certezas e definições. As pessoas não querem mudar porque se acomodam.
“A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”
Depois de ler as palavras da escritora Marina Colasanti, tiradas do livro Eu sei, mas não Devia, procure refletir: você tem mais medo de mudar ou de se acostumar?

4 comentários:

  1. O medo impede a gente de tentar... E eu fico com raiva de mim mesma se alguma coisa me trava. Sempre fui tão decidida! Tô precisando de um empurrão prá ver se saio de uma inércia (parada) e entro em outra (movimento). Já sei, já sei... A força está dentro de mim!
    Adoro ler o que você escreve. Beijo, Paula

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  2. Paulinha
    Que delícia vc por aki! E pode ter certeza que medos, todos nós temos! Mas a gente tem que tentar mesmooooo e se for por conta de empurrão dou um daquiiiiiiiiiiii prá vc! Brigadim pelos elogios, até inchei mais um tiquinho rsrsrs
    Beijuuss n.c.

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  3. Puxa, tava precisando mesmo ouvir isso! É tão interessante como é mais facil de lidar com as coisa que passamos a entender. And my fears seem so tiny when I see them like that...
    Thanks brilliant Regina

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  4. Bee
    Thank You for your beautiful words! I really don't know if I deserve...
    Kisses into your heart

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